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Damos destaque, nesta edição, ao dossiê sobre a “Infância na América Latina” organizado por três pesquisadores argentinos: Pablo de Grande, da Universidade San Salvador; Valeria Llobet, da Universidade de San Martin; e Carolina Remorini, da Universidade Nacional de La Plata.

Nesta 12a edição da DESIDADES contamos com um leque variado de discussões que destacam as múltiplas inserções das crianças e jovens latino-americanos na dinâmica social. Os textos desta edição apontam, sobretudo, a relevância de se considerar a dinâmica inter-geracional entre crianças, jovens e adultos como um aspecto analítico fundamental na compreensão das demandas e ações das novas gerações.

A sociedade brasileira encontra-se em um momento de estupefação diante da conjuntura social, política e econômica, vivenciando fatos tão inusitados quanto alarmantes. Em um mesmo ano o país viveu múltiplas crises intra e interinstitucionais, com a deposição, pelo Congresso Nacional, de uma presidenta eleita pelo voto popular e a concomitante ascensão do seu vice, que também foi o principal articulador do processo de deposição. Os direitos e conquistas sociais frutos de anos de luta tem sido colocados sob constante ameaça, seja pela própria classe política que se aproveita de um momento de desarticulação das forças progressistas, seja por setores conservadores da sociedade civil que vislumbram a possibilidade de jogar por terra conquistas importantes. 

A noção ‘juventude’ invoca hoje um campo plural que compreende uma diversidade de definições e teorias sobre a especificidade do ser jovem. A própria definição de juventude proposta por organismos internacionais, como a UNESCO, tem sofrido revisões, o que mostra, no mínimo, a elasticidade e a efemeridade dos critérios que se julgam relevantes para delimitar este campo de estudos. Por outro lado, os movimentos juvenis nos espaços públicos, antes circunscritos às lutas estudantis, principalmente de universitários, hoje, se diversificam em torno de demandas e reivindicações culturais, de gênero, etnia e outras tantas, rearticulando a agenda de lutas da categoria ‘juventude’ frente à sociedade, e alavancando a organização de grupos e associações juvenis (Balardini, 2000).

Nesta 15ª edição muito nos leva à infância – à convivência das crianças no espaço escolar e às interrogações sobre a produção de sentidos que nele se estabelece. Ainda que distintos em suas abordagens, os textos confluem no sentido de trazer à vista a importância da expressividade do viver na mobilidade dos corpos e das ações em sua relação com o ambiente. Embora distante da temática escolar, mas ainda em consonância à importância do ‘estar vivo’, o segundo artigo é abordado a partir de uma falha ambiental inegociável: a desigualdade, refletida na desnutrição e pobreza da infância maia guatemalteca.

Desenham-se hoje outros cenários sobre a posição das crianças no mundo. Mudanças profundas converteram nossa maneira de percebê-las e tratá-las. A visão sobre a infância como um momento biográfico cujo valor reside justamente na sua superação, ao deixar para trás qualquer indício do ‘infantil’, é considerada anacrônica.

2017 não pode ser celebrado como um ano favorável para a vida das crianças e jovens latino-americanos. Em muitos destes países o avanço de políticas neoliberais já trouxe, e aprofundará mais ainda, efeitos nefastos sobre a população infanto-juvenil.

Frequentemente as injustiças se disfarçam na trama social, quando é mais difícil se dar conta de algumas situações injustas que clamam por mudanças na sociedade. O processo de “familialização” das crianças e jovens, termo usado para descrever a invisibilidade destes atores na dinâmica social a não ser pela ótica de seu pertencimento familiar, determina também a “familialização” das responsabilidades e de uma ética de cuidado em relação à população de crianças e jovens.

De um lado, o imaginário social fantasioso de que nada pode ser mais importante do que ser jovem; de outro, a condição real da juventude marcada por relações violentas e desumanizadas com os adultos.

Em uma sociedade que se quer democrática, a participação de todos e todas não é somente desejável como fundamental. No entanto, alguns segmentos sociais, como o das crianças, ainda se encontram alijados de seus direitos políticos.