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A Face Oculta da Indiferença: sobre o sofrimento dos jovens no contemporâneo

O presente trabalho consiste em uma construção teórico-empírica que buscou fundamentar a perspectiva conceitual da indiferença como ação. Antagonizando a ideia de apatia, a indiferença é vista como um mecanismo de esquiva frente à alteridade, uma atitude desumanizadora em relação ao outro.

Nessa perspectiva, seus modos de expressão são diretamente correlacionados às relações inter-humanas cada vez mais áridas, em que a impessoalidade, o descaso e o desinteresse pelo outro se fortalecem. Os interesses privados interligam-se à escassez de um sentido solidário que vem margeando a própria eliminação do humano e seu reconhecimento como pessoa. Como recorte do campo empírico, buscamos junto aos jovens suas construções sobre o que pensam e sentem sobre a indiferença. A pesquisa foi realizada por meio da metodologia de Grupos de Discussão, em uma abordagem de pesquisa-intervenção, com quatro grupos distintos de jovens, de faixa etária entre 14 e 18 anos, realizados em escolas públicas e particulares localizadas na cidade do Rio de Janeiro. Na referida pesquisa, a indiferença – traduzida pelos jovens como preconceito, humilhação, desrespeito e discriminação – é desvelada em sua potência avassaladora, onde o sofrimento por ela engendrado constitui a face obscura em que se oculta. Esse sofrimento, revelado e narrado junto aos pares, trouxe às vistas o itinerário da indiferença, expressado nas dores da exclusão, do não lugar, da falta de pertencimento e reconhecimento; na fragilidade dos afetos; na solidão e ausência de interlocução; nos corpos afetados e rejeitados em sua aparência. Assim, o sofrimento advindo da indiferença, coloca em cena a importância irredutível do outro: sua implicação, seus afetos e emoções, seu reconhecimento e existência. As referências teóricas que permitiram compor os modos de expressão da indiferença no contemporâneo encontram-se em F. Costa, em sua asserção sobre “o alheamento em relação ao outro”, apreendida como atitude que procede à ‘violência da indiferença’; em G. Simmel, em seu conceito de “atitude blasé”, interpretado como manifestação da ‘indiferença defensiva’; e N. Elias, em sua concepção de “homo clausus”, sintetizada na expressão ‘solidão e afastamento em um mundo individualizado’. Contrapondo essa discussão, são apresentados seus correlatos positivos que tensionam permanentemente o ‘fechamento’ da indiferença, quais sejam: o “reconhecimento” em A. Honneth; a “confiança”, em M. Balint, D. Winnicott e Z. Bauman; e o “respeito” em R. Sennett.

Autora: Sonia Regina da Silva Borges Cardoso de Oliveira
Palavras-chave: Jovens, Indiferença, Sofrimento, Reconhecimento
Referência completa: Cardoso de Oliveira, Sonia Borges. “A Face Oculta da Indiferença: sobre o sofrimento dos jovens no contemporâneo”. Tese de Doutorado realizada no Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFRJ, 2012.