Alinhados com os novos tempos, outros atores sociais, como os governos, por exemplo, vêm, gradualmente, consolidando agências destinadas a formular políticas públicas específicas para a juventude com programas e metas dirigidas aos jovens. Neste sentido, ganha relevância o fato de tais políticas estabelecerem suas próprias definições sobre a juventude, no momento em que os jovens passam a ser um campo de intervenção social visibilizado politicamente.
A visibilidade que a ‘juventude’ vem adquirindo nos espaços públicos de lutas e demandas tem favorecido, também, a ampla mobilização do Terceiro Setor (Ongs, fundações privadas e públicas, OSCIPs), cuja vertiginosa expansão no Brasil tem se ocupado, crescentemente, dos segmentos juvenis. De acordo com dados do Censo promovido pelo GIFE (Grupo de Instituições, Fundações e Empresas), que aglutina as maiores empresas e bancos privados no Brasil, os jovens – entre 15 e 24 anos – compõem um dos destinos que mais recebe o investimento social privado deste grupo (GIFE, 2014).
Neste cenário de intensa movimentação de grupos juvenis, governo, instituições públicas e privadas, é de se esperar que uma multiplicidade de visões concorrentes procure, cada uma, definir a ‘realidade juvenil’. Consequentemente, a diversidade discursiva sobre ‘a’ e ‘as’ juventude (s) não alcança, muitas vezes, nem integração, muito menos coerência; ou, até mesmo, consegue propiciar diálogo que instaure uma maior compreensão sobre as diferenças e distâncias entre as distintas concepções.
Como têm se posicionado as ciências humanas e sociais a esse respeito? Como as ciências, a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia e a Educação, para nomear apenas algumas delas, têm respondido a os desafios colocados por este cenário? De que forma as trajetórias específicas de cada uma dessas disciplinas ao longo do século XX determinam o modo como, hoje, elas definem o objeto de estudo ‘juventude(s)’, e elegem o escopo relevante de temas e questões de investigação? Como tais itinerários disciplinares, desenhados ao longo de décadas, vão privilegiar determinadas conceituações em detrimento de outras, e encaminhar determinadas orientações e políticas no atendimento às demandas destes segmentos? E ainda, será possível e desejável estabelecer articulações transdisciplinares nas pesquisas deste campo de estudos?
Nesta edição da DESIDADES, três artigos da seção Temas em Destaque trazem uma contribuição a este debate. Luís Antonio Groppo, em “Juventudes e políticas públicas: comentários sobre as concepções sociológicas de juventude” analisa como as teorias sociológicas, construídas ao longo do século XX, vão impactar o campo recente das políticas públicas para a juventude . Márcia Stengel e Juarez Dayrell, por sua vez, em “Produção sobre Adolescência/Juventude na pós-graduação da Psicologia no Brasil”, se voltam para a produção discente da pós-graduação brasileira em Psicologia, entre 2006 e 2011, para mapear os estudos sobre adolescência e juventude.
Voltando as lentes de análise para os próprios jovens, sua produção cultural e movimentos de resistência, Mirela Iriart e Denise Laranjeira, em “Pesquisando nas fronteiras: cartografias de circuitos culturais juvenis em Feira de Santana – BA/Brasil”, buscam capturar, por meio do método cartográfico, as expressões culturais de grupos juvenis no seu movimento liminar de reconfiguração das redes urbanas de solidariedade e reconhecimento social.
Na seção Espaço Aberto, a pesquisadora Ilana Lemos de Paiva, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, entrevista a pesquisadora mexicana Juana María Guadalupe Mejía-Hernández sobre Violência entre adolescentes no contexto escolar. Atualmente Juana Mejia-Hernandez é docente na Universidade Tecnológica do México (UNITEC), e no Centro Universitario ORT – México tendo realizado uma extensa pesquisa com adolescentes mexicanos nas escolas públicas.
Na seção Informações Bibliográficas contamos com a resenha de Ana Maria Fonseca de Almeida sobre o livro de autoria da pesquisadora argentina Victoria Gessagh, La educación de la clase alta argentina – entre la herencia y el mérito. Apresentamos, ainda, nesta seção a lista de 22 publicações recentes nas ciências humanas e sociais, relativas ao último trimestre sobre infância e juventude, como resultado do trabalho de busca sistemática realizado pela revista nos sites das editoras, comerciais e públicas, em todos os países da América Latina. Portanto, esta edição da revista contempla de modo especial a discussão sobre juventude e adolescência nos seus múltiplos e interessantes aspectos que contemporaneamente instigam a pesquisa científica e servem de base a políticas de governos e ações das sociedades.
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