Não é difícil perceber que, diante desse quadro de instabilidade, o jovem torna-se vulnerável, sem referências para a construção de sua história e de seus projetos. De outro lado, as mensagens veiculadas pela sociedade são em geral centradas no estereótipo do jovem como aquele que é livre, que não se submete às regras e pode, portanto, gozar de todos os prazeres da vida, o que só contribui para agravar o quadro de vulnerabilidade. Na nossa sociedade individualista, o adolescente encarna ao mesmo tempo o ideal social e o sintoma de uma crise. Suspenso num campo indefinido entre o público e o privado, entre a criança e a vida adulta, o adolescente é uma figura provisória, marcada pela errância. Para ancorar sua existência fluida, os adolescentes buscam se identificar como podem: formam hordas, bandos e fratrias que se fazem e desfazem com a mesma rapidez. De um ponto de vista menos catastrofista do que aquele que liga os jovens e a adolescência às drogas, à violência, e a um estado de ameaça e decadência de valores, as chamadas “tribos” podem ser pensadas como uma dinâmica de inventividade e singularização que acontecem dentro da sociedade contemporânea. Numa cultura marcada pelo individualismo, caracterizada pela fragmentação e pulverização de referências simbólicas que ajudem a passagem do adolescente para uma nova inserção social no mundo, podemos supor que as tribos representam espaços de encontro e partilha da experiência da adolescência, tentativas coletivas de fazer valer um ideal coletivo, produzido pelos próprios jovens.
Autores: | Luciana Gageiro Coutinho |
Palavras-chave: | Adolescência, Psicanálise, Laço social, Tribos, Contemporâneo |
Referência completa: | COUTINHO, L. G. Adolescência e errância: destinos do laço social no Contemporâneo. Rio de Janeiro: FAPERJ/ NAU, 2009 |